quarta-feira, 7 de março de 2012

Ousmane Sembène e o Senegal

Começo essa postagem convidando todos a se deliciarem com o cinema, não de qualquer forma, não de forma alienada, pois o cinema não é um ópio, mas sim uma estética, e dessa forma, cada imagem possui sua significação, sua subjetividade. Te convido a fazer essa viagem e perceberá quanta coisa podemos aprender com a 7º arte sobre as sociedades que nos cercam.


Gostaria que a primeira publicação estivesse relacionada ao diretor, cineasta e escritor Ousmane Sembène.

Considerado o pai do cinema africano, foi o precursor desta arte na África. Com o intuito de mostrar as especificidades e riquezas da cultura tradicional, não só do Senegal mas de toda a África, aposta em filmes de caráter realista que lembram os antigos griots.
Suas obras são marcadas pelo forte teor crítico de aculturação proposta pela Europa, como também o papel de líderes locais e suas políticas de aproximação e negociação mundial. Para ele a manutenção e propagação dos valores originais africanos estaria fortemente relacionada a identidade da negritude e suas culturas propagadas entre os familiares. Para isso apoiava o ensino de línguas matrizes como o wolof, usados em suas produções cinematográficas, como também a valorização da religiosidade africana frente ao avanço da religião muçulmana e católica, exemplo claro no filme Emitai.




Criticado por não aceitar apoio financeiro europeu para as suas produções, seus filmes são marcados por planos longos, cenário externo, poucas falas apostando mais nos símbolos visuais, deixa marcado a influência do realismo socialista soviético, buscando suas origens em Moscou, capital da Rússia, país localizado na Europa. Porém essa sua opção retrata os conflitos sócio-políticos vividos em todo o mundo, a chamada Guerra Fria. Como marxista declarado, se aproxima do comunismo francês, e resolve usar as concepções do realismo soviético para passar sua mensagem.

Podemos então perceber que o Realismo socialista foi um conjunto de diretrizes da
União Soviética, entre a década de 1930 e a morte de Stalin, que orientava os estilos de produção. Muito além disso, era uma política oficial que pretendia adequar a produção cultural à interpretação marxista-leninista da realidade. Se consagra como uma política estética oficial em oposição as vanguardas russas. Os membros da vanguarda russa, artistas em geral ligados ao Construtivismo, ao Abstracionismo e ao Suprematismo, possuíram papel importante na primeira fase da revolução, propondo a criação de grandes ateliês públicos de arte, nos quais a livre expressão estética seria incentivada pelo Estado, em busca da libertação, tanto individual quanto coletiva, dos valores pré-revolucionários. Com a política totalitária stalinista, este tipo de posicionamento artístico foi duramente combatido, sendo perseguidos nomes ligados à arte abstrata, em especial. Durante praticamente todo o período
de existência da União Soviética, a vanguarda russa original foi esquecida e pouco estudada, privilegiando-se o Realismo socialista. Apenas com a queda do comunismo stalinista do Leste Europeu tal movimento passou a despertar novos interesses.




Cartaz típico do Realismo Socialista relembrando "os heróis do Encouraçado Potemkin".

Cada vez mais na História tem se aberto espaço para discussões de fontes
historiográficas além dos documentos escritos, mais defendidos pela escola metódica do século XIX, onde a oralidade e a imagem tem ganhado espaço, principalmente com o
surgimento da História Nova, fazendo com que o cinema possa ser discutido como fonte para se entender melhor a mentalidade das sociedades, entramos cada vez mais na discussão levantada pela história total. Somente por volta dos ano sessenta e setenta do nosso século que o filme é visto como documento e como agente transformador da história. Jorge Nóvoa nos afirma que desde a formação da história com Heródoto nenhum documento se impôs tanto a ponto de ganhar uma formulação teórica, onde para os cientistas sociais esse passa a ser um modelador das mentalidades, sentimentos e emoções dos indivíduos. O próprio Marx, ainda no século XIX, relaciona a sua pesquisa cientifica com uma frase de Shakespeare "nada que é humano me é estranho".


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